CHOCOLATE: É DE COMER OU DE BEBER?

Quando mencionamos a palavra chocolate, certamente a imagem que vem à cabeça é uma sólida barra escura de cor castanha e aroma delicadamente doce.
Mas até o fim do século XIX o chocolate era um alimento exclusivamente para beber. Então como a bebida chocolate virou o chocolate que conhecemos hoje?

Acredito que todos já saibam que o chocolate vem do fruto cacau – o tão conhecido Alimento dos Deuses.
O chocolate em si surgiu na América Central e talvez por isso, durante muito tempo acreditou-se que a planta Theobroma Cacao também havia se originado lá. Mas estudos mais recentes apontam que, na verdade, o cacau surgiu aqui na América do Sul.
Por meio de análises de DNA em vasos e potes encontrados em sítios arqueológicos no Equador, a suposição é de que o consumo de cacau como bebida data de pelo menos 3.000 anos A.C., mas a teoria é de que incialmente consumia-se o suco da polpa do cacau e a bebida fermentada dela (uma espécie de vinho de cacau). Até hoje alguns povos locais, tanto da América do Sul como América Central, ainda consomem esta bebida.
Somente muitos anos após o cacau ser levado até a região conhecida como Mesoamérica é que surgiria o chocolate: uma bebida obtida a partir das amêndoas do cacau, que eram moídas numa pedra até resultar numa pasta que era diluída em água, tornando-se assim uma bebida.
Até hoje, é possível encontrar na América Central a massa preparada de cacau para ser diluída e consumida como no passado.
Não se sabe exatamente quando essa forma de consumo teria surgido. Mas o fato é que ela mudaria para sempre a história do cacau, pois ao que parece o “vinho de cacau” jamais teria a mesma popularidade que o chocolate.

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O chocolate foi largamente consumido e valorizado pelos Maias e Astecas e era uma bebida frequentemente combinada com baunilha, ervas, flores, pimenta e mel. Ele também tinha um lugar especial nas mais importantes celebrações religiosas e sociais.
Quando os espanhóis chegaram à América, não foi difícil perceber o alto status que o chocolate tinhas nas civilizações do Novo Mundo. Muito associado a poderes mágicos e afrodisíacos, os europeus adicionaram açúcar ao chocolate e ele acabou conquistando a sua aristocracia. Durante os próximos séculos eles passaram a consumir com muita classe a bebida dos deuses, que se popularizava cada vez mais.
Com a chegada da era industrial e o desenvolvimento tecnológico, uma nova técnica possibilitou a extração da manteiga de cacau do restante da pasta, surgindo assim o cacau em pó. Assim o chocolate se tornaria um produto muito mais acessível às diversas classes.
Mas a separação da manteiga de cacau teve uma razão ainda mais forte para revolucionar para sempre o consumo de chocolate. Ao recombiná-la com a massa de cacau, pôde-se obter um produto mais estável e finalmente surgiu o chocolate sólido. A primeira barra de chocolate foi comercializada pela empresa inglesa Fry’s, em 1847.

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Nos anos que seguiram, várias técnicas aperfeiçoaram o chocolate. A conchagem, desenvolvida por Rodolphe Lindt deixaria o chocolate com uma textura mais agradável e finalmente, Henri Nestlé, ao desenvolver o leite em pó, possibilitou que ele fosse adicionado ao chocolate. Surgia então o chocolate ao leite.
No século XX, para baratear ainda mais os custos, ingredientes industriais foram sendo adicionados e insumos vindos do cacau substituídos. O chocolate tornou-se um doce, com cada vez menos cacau e mais misturas. E a própria produção de cacau passou a ser mais massiva e menos cuidadosa.
Até mesmo o chocolate como bebida, passou a conter muito mais leite e açúcar do que cacau.
O chocolate conhecido pelo mundo tornou-se cada vez mais distante daquele chocolate original e poderia até se dizer que perdia sua verdadeira identidade.
Por sorte, no fim dos anos 80, alguns chocolatiers franceses começaram a querer resgatar aquele chocolate tradicional, com altos percentuais de cacau e aromaticamente ricos. Buscou-se então o cacau nas suas mais antigas origens, aqueles que não eram produzidos massivamente.
Na década seguinte, começava nos Estados Unidos uma retomada de processos mais artesanais de fabricação dos chocolates o que também possibilitou o aumento na qualidade dos produtos finais. Surgia o movimento Bean to Bar.

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Hoje novo e antigo finalmente podem caminhar juntos harmonicamente. Resgatamos a personalidade do verdadeiro chocolate pré-colombiano ao evidenciar o autêntico sabor do cacau, mas não mais apenas como bebida.
Para quem já mergulhou nesse mundo dos bons chocolates entende o quão rica é a experiência de provar o melhor do cacau em uma barrinha.
E para quem ainda não vivenciou este resgate, a Chocolata o convida a conhecer todo nosso catálogo de chocolates vindos diretamente do grão a barra.